Domingo

Há festa, sol, gente
Uma indizível luz, o morro, o jogo
- E ele parte pela lateral! –
O sorriso mais displicente
É dia de festa!

Sem falar no sino
Que não cessa de bater, de soar
De suar, os passeantes da orla

É dia de festa!
Dia da mulher ser a amante
O milionário ficar bobo
Dia de balões, estalinhos, bombinhas
É dia de parque de diversões
É dia de Quinta da Boa Vista
De irmos à praia da Boa Viagem

O domingo não tem lei
Não tem limites, não tem condução
No domingo a virgem vira Ceição
Ceição dos amores, dos Prazeres
Cuja volúpia me faz trair

É dia de festa
Hoje é domingo
Domingo é dia de festa

No domingo se esquece o pesar
Pois no domingo se deve amar
Encher-se de contas
- Há toda a semana pra pagar –
Hoje se faz churrasco
Se bebe cerveja e cerveja e cerveja
É dia de sair, de zoar
O domingo é dia de escandalizar

E o perfume? Cheiroso e barato
Que envolve nas axilas o livro sagrado
Que longas madeixas, com muito recato
E o sapato? Vai sempre lustrado

Hoje em toda a cidade
Não há nada errado
Pois hoje é domingo
Catarse do povo
Pois hoje é domingo
Domingo do povo...

Heitor Victor

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