Cicatrizes

Que estranho não mais chorar
Tantos sonhos, tantas porradas
Tantas marcas a me consolar

Que estranho não mais sentir
Tantos toques e tantos olhares
Invadem-me em vão partir

As lágrimas, sei, não secaram
Mas encalharam numa lembrança
Nos vultos soltos que me restaram

Desejo intensamente uma paixão
Meu coração poroso sofre
Sente sequelas de um mundo cão

Definitivamente é estranho perecer
Sem dolo, ou afeto ou nada
Sem um instante a se me oferecer

Que estranho não mais sorrir
Não falo em dentes se exibindo
Mas em voos livres do porvir

Heitor Victor

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