Além das sendas do vale

O solo como um mata borrão
Se ocupa inerte da treva da noite
É a dura vida com seu açoite
Deixa-nos cegos na escuridão

Você sem saber de onde vêm os gritos
Me aponta, mas com terror na face
Então sugere-nos um desenlace
Que juntos abandonemos os ritos

Há torpes sussurros por toda parte
Olho-te exangue e sem entender
Culpo-te temeroso a rebater
Sem enxergar mais qualquer arte

Mas só há luz se há escuridão
Horizontes quando se ergue o cenho
Tomo-te a mão, sinto que ainda a tenho
Mesmo estando às portas da danação

Tu me afugentas, sensível à dor
Eu sinto dúvidas do teu querer
Vejo que o mesmo desejamos ser
Vejo, surgir das cinzas, nosso amor

Insones, inseguros e arredios
Vamos tropeçando em sendas no vale
Mas exortando à dor que se cale
No peito, corações não mais vazios

Heitor Victor

Comentários

Postagens mais visitadas