O ruço tece a manhã

O ruço tece a manhã, 

qual grafite esfumaçado.

Não sei se úmido ou frígido, 

ou se um sentir embaçado. 


Eis que há cinza em meus olhos, 

neste olhar acastanhado, 

um fumo que amedronta,

encontra-me enclausurado. 


O ruço espelha as sombras

de um coração embotado,

que nessa aurora ameaça

Um ímpeto mal logrado. 


Solfejo umas notas tristes

e um triste, quase enlutado,

odor de incenso lúgubre

com aroma almiscarado. 


Mas, sei que há de arder ainda, 

há chama em meu ser tombado,

calor em meu peito austero,

quero estar apaixonado.


E o ruço? Já me engolfou,

se encontra em mim tatuado,

na trama da vida inteira,

enredo já maculado.


Heitor Victor


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